A alguns meses atrás, quando atingi a marca de 1.000
vinhos degustados, escrevi sobre os 10 mais interessantes desta jornada.
Explico como eu sei quantos vinhos degustei e
qual o critério que utilizei para a seleção.
Caso tenha curiosidade só busca-lo no
Blog.
Christian Sepulveda, um dos enólogos da Guaspari e Eu |
Hoje, volto ao tema, visto que atingi a
marca de 3000 vinhos degustados e repassando a lista achei que tinha conteúdo e
peculiaridade que poderiam ajudar a outras pessoas na busca de experiências
novas neste mundo enológico infinito.
Importante observar que apesar de parecer
muito, 3000 vinhos, ouvi a coluna do Jorge Lucki na Radio CBN que esta fazendo uma
retrospectiva dos vinhos de 2017 onde mencionou que em apenas um encontro
chegou a degustar 700 vinhos chilenos e que só em 2017 deve ter degustado na
ordem de 6 a 8 mil amostras. Ou seja, minha marca é claramente de um iniciante
dedicado apenas.
Outro fato curioso é que existem diversos
tipos de avaliadores,
totalmente
relacionados com o conhecimento que possuem e/ou com o tipo de acesso que tem aos
produtos e fornecedores ( Importadoras e Vinícolas ), já que , como já
percebeu, a variedade é praticamente infinita e a gama de
preço muito
elástica,
indo de 30 reais até vinhos que custam o preço de um carro popular.
Aproveitando o exemplo, é o mesmo que
escolher o melhor carro do mundo, tendo uma Ferrari, uma SUV ou um Jeep no
cardápio.
Missão impossível se não definir
critérios claros.
Mas voltando aos avaliadores,
existem especialistas que gravitam no mundo das raridades.
Para estes, é
normal degustar grandes Borgonhas de
30 anos atrás e decidir se a safra 2004 era tão boa quanto a de 1986.
Comparar Brunellos de 20 com os de 30 anos e assim, nos
apresentar um mundo fantástico
mas inacessível para
a grande
maioria dos enófilos.
Sorte deles !
Mas para nós, pobres
mortais,
esta
informação tem pouca utilidade prática, tal qual
saber que a
Ferrari GTC4Lusso está chegando no Brasil por módicos 4 milhões de reais.
Outros navegam exatamente no lado oposto,
se divertem em testar vinhos muito simples e tentam extrair qualidades
superiores, descobrindo joias
raras para seus
seguidores.
Não sei qual deles tem a
tarefa mais difícil.
Sei, e voce também sabe, qual é o mais barato, mas descobrir
qualidades em vinhos simples pode levar ao exagero ou a ilusão.
Não é raro ver descrições de 6 a 8
aromas de vinhos simples
que são varietais ( uma
uva principal, sem a complexidade
de misturar diversas
uvas ), nem passaram
por barrica, que como sabe adiciona aromas específicos
e pior ainda, são de safras bem recentes ( como devem ser
os vinhos simples ), o
que significa que não tiveram ( mesmo que conseguissem ), tempo
de desenvolver os famosos aromas terciários, que
aparece depois de alguns anos envelhecido na garrafa.
E finalmente os avaliadores banda larga
que se arriscam a comentar tudo que experimentam, mesmo castigando os vinhos
mais simples ou não tendo profundidade para comentar os mais complexos.
Conclusão, missão difícil que seguramente
deve ser deixada para grandes especialistas e obviamente a minha proposta é
outra, usar meu conhecimento ( limitado ) para indicar surpresas que encontro
pelo caminho e que julgo merecer a atenção de qualquer enófilo.
É este espírito que voce vai
encontrar na lista abaixo, dividir com vocês minhas sensações e quem sabe te
indicar um exemplar, caro ou não que também vá te surpreender.
Tem um detalhe diferente do primeiro
post, em caso de empate, que foi recorrente, procurei priorizar um estilo
diferente de vinhos, assim, vão encontrar Espumante, Vinho Branco, Tinto e dois
sensacionais vinhos de sobremesa.
Bem, chega de falar e vamos trabalhar !
Lembrando que não tive a preocupação de
colocar em ordem do 1º ao 10º , já bastou ter que escolher 10 de 3000 opções.
Quais foram as minhas escolhas ? Ai
estão :
1) Ludwig
Wagner & Sohn, TBA ( TrockenBeerenAuslese
),
Ortegam,
2009,
Pfalz
Alemanha –
Preciso confessar que nos últimos meses me aprofundei bastante em aprender
sobre os divinos vinhos de sobremesa, então, na verdade, existe um viés para
estes vinhos neste lote de 3000 amostras. Mas isso não distorce a
seleção visto que me limitei a apenas 2 escolhidos. Este é
apenas um dos representantes da classe mais nobre dos vinhos alemães, existem
muitas outas opções, incluindo 3 dos 10 vinhos mais caros
do mundo.
Não temos tempo para detalhar as técnicas de produção dos vinhos doces, por
enquanto, saiba que TBA, numa tradução livre, significa Seleção de Bagos Secos,
ou seja, colhidos depois que o bago perde boa parte da agua do seu interior,
concentrando os açucares. Apesar de caro, os TBAs
merecem ser conhecidos em algum momento assim como os primos franceses de Sauternes. Weinkeller, Açucar Residual 222 gr/litro,
R$ 350,00 ( 375 ml ).
2) Cobos Marchiori
Vineyard,
2014, Malbec,
Mendoza, Argentina –
Este é um dos poucos vinhos caros listados aqui, mas jã te adianto que vale cada centavo. Com a
assinatura de Paul Robbs, a
Vinícola Cobos é
uma das visitas imperdíveis quando for a Mendoza. Toda sua linha merece
destaque, do
Felino, passando pelo Bramare e chegando
no Cobos. Feito com extremo cuidado, vinhas
velhas de 80 anos de parcelas
exclusivas do
vinhedo Marchiori, é um
vinho diferenciado que revela
claramente até
onde a uva
Malbec pode
chegar na Argentina. Gran Cru,
R$ 1500,00.
3) Entity,
John Duval, 2007, Syrah, Barossa
Valley, Australia –
Este talvez seja uma unanimidade de escolha, visto que tudo nele é especial. Começando
pelo pais, que foi o responsável em colocar a Uva Shiraz
( para os Australianos e Syrah para
os franceses )
como
protagonista no mundo do vinho, caminhando pelo terroir de Barossa
Valley, excepcional para esta
cepa, pelo
produtor, John Duval, um ícone da Austrália, e finalizando com o vinho que
como o próprio
nome indica, revela a identidade desta uva no Novo Mundo, resultando
num
vinho exclusivo que precisa ser degustado por quem quer se
especializar tanto
na uva quanto no pais.
Cantu, R$
950,00
4) Merlot,
Josko
Graviner,
1999, Friulli
,
Italia – Soube
que este
vinho estaria nesta lista no momento que o
experimentei,
contudo
não se entusiasme muito, pois é uma pegadinha. Josko Gravner é considerado o pai dos vinhos laranjas
( apesar de ele detestar este nome ) e tem uma historia muito peculiar. Depois
de estar entre os principais produtores da Italia e do Mundo, resolveu recomeçar,
estudando
a origem dos vinhos ( na Georgia em
1997 ) e
lançou vinhos produzidos com ânforas de terracotas que ficam enterradas no solo como
faziam na origem,
o que faz até hoje, deixando para trás as uvas tradicionais para se dedicar a e converteu
seus vinhos premiados para uvas autóctones do Friulli, a branca Ribolla e a tinta Pignolo. E aí está a pegadinha, este Merlot, maravilhoso,
deixou
de ser produzido.
Ele trouxe
na mala alguns exemplares, numa das suas viagens ao Brasil, para morrermos de vontade e
saudade.
Outros rótulos do Josko voce pode
encontrar na Decanter.
5) Giulio
Ferrari Riserva
del
Fondatore
2004 Chardonnay,
Trentino,
Italia
– Como
sabe, a Itália tem
uma incrível variedade de uvas autóctones, de estilos de
vinho e também de
espumantes, como o Franciacorta, Prosecco, Asti, ... E, tem a vinícola Ferrari !
Que produz em Trentino, uma linha completa de espumantes de
altíssima qualidade. E atinge seu ápice no Riserva del Fondatore, produzido integralmente com uva Chardonnay,
pelo método tradicional, estagiando 9 anos na garrafa antes de ir para o
mercado. Precisa
ser explorado.
Decanter, R$
830,00.
6) Villa
Oliveira, Casa da Passarella, Encruzado, 2011, Dão,
Portugal – É o
representante dos vinhos brancos no grupo. Daqueles para você oferecer
aos enófilos que afirmam só gostar de vinho tinto e de preferencia escoltado
por uma prato de Bacalhau. Duvido que ele não mude de opinião ou,
se não sabe perder, vai começar a
chamar a Encruzado de Uva tinta. Vinho especial, com personalidade própria,
difícil de comparar qualquer outro vinho. 100 % vinhas velhas da Encruzado,
plantadas a 800 metros de altitude, fermenta com a casca por 15 dias e finaliza
em grandes barris de 600 litros
onde fica estagiando por 1 ano. Premium, R$ 560,00.
7) Quarts
de
Chaume,
Domaine
de Baumard,
Chenin
Blanc , 2008, Vale do Loire, França – É o
outro representante da
família dos vinhos
de sobremesa, produzido
pela tradicional família Baumard que
cultiva uvas em Anjou, no
Vale do Loire desde 1634. Utiliza a Chenin Blanc para produzir um vinho rico, doce
e repleto de acidez o que o torna um dos vinhos doces mais procurados do mundo.
Para quem quer conhecer os principais vinhos de sobremesa do mundo, precisa
experimenta-lo. Mistral, R$ 560,00
8) Falernia
Reserva, 2014,
Carmenere,
Vale do
Elqui,
Chile – O
segundo representante da américa do sul, produzido no norte do Chile, no Vale
do Elqui,
longe das regiões tradicionais,
que se aglomeram em um perímetro
de 150 kms ao
redor de Santiago.
Terroir
exclusivo, com
um
processo especial
de produção, baseado
no passivamento,
famoso nos Reciotos e Amarones italianos.
Mas não se engane é um vinho do novo mundo, com potencia, untuosidade
e maciez na boca, frutado
e te dá uma sensação de doçura na boca, bem ao gosto da grande parte dos
brasileiros. Ótimo custo x beneficio. Premium, R$ 130,00
9) Gran
Tannat,
Toscanini
, 2013,
Canelones,
Uruguai – Me
chamou a atenção quando foi escolhido por unanimidade num painel recheado de
ícones uruguaios e entrou para a lista quando repetiu o feito um ano depois com
outro grupo de degustadores. Assim como o Falernia,
outro excelente
custo x beneficio, perfeito
para conhecer a extensão da uva Tannat no Uruguai. R$ 200,00
10) Vista
do Chá, Vinícola
Guaspari,
2011, Espirito Santo do Pinhal, Brasil – Sim, deixei para fechar o painel com
um vinho brasileiro e sim novamente, Espirito Santo do Pinhal fica no Estado de
São Paulo e pela 3ª vez, sim, tenho certeza da minha escolha, não estou ficando
louco. Graças a uma técnica desenvolvida para Epamig, na região de 3 Corações no sul de
Minas, denominada Dupla poda ou poda invertida ou poda de inverno ( Isso mesmo,
a velha técnica de consultoria de colocar nomes novos para descobertas antigas
e fazer sucesso ), esta sendo possível produzir vinhos de alta qualidade ( bem
) fora dos paralelos 30 e 50 graus
tão
apregoado pela literatura vitivinícola. Com a uva Syrah como
carro chefe, a cada ano surgem surpresas nas regiões do sul de Minas Gerais e
interior de São Paulo, lançando vinhos que estão ganhando reconhecimento e preços
proibitivos também. Vale a
pena conhecer.
R$ 180,00 ( Esgotado no momento ).